Quem foi o Fernandinho Guarabu. Chefão na Ilha do Governador por 15 anos

 Fernando Gomes de Freitas, ou mais conhecido pelo apelido de Fernandinho Guarabu. Chefiava tudo no Dendê na Ilha do Governador por 15 anos, sem ser incomodado.

Início do Fernandinho no Crime

Fernandinho Guarabu ou conhecido também como Lopes, Leão ou Johny, era um criminoso oriundo das comunidades do Complexo do Dendê na Ilha do Governador, localizada na zona norte do Rio de Janeiro. Como a maioria dos traficantes que postularam a ser chefes, iniciou no crime muito cedo, trabalhando de olheiro, atividade e vapor.

Mas a sua relevância começou no Dendê por volta dos anos 2000, quando a comunidade deixava de ser "neutra" e começou a conversar com as facções, numa época que existiam apenas 2 no Rio de Janeiro, e muitos grupos que se consideravam neutros. Os antigos donos do Dendê naquela época, conhecidos como Miltinho e Ronaldo, por serem amigos dos chefes do Acari, tinha um respeito no Terceiro Comando, mesmo não levantando a bandeira.

E foi nessa época que o Dendê adotou a união "TC e ADA", que começou por volta de 95. Após Uê matar o Orlando Jogador, sair do Comando Vermelho e ir para o Terceiro Comando e depois ser preso. Da cadeia, negociou com os chefões e formou o Amigos dos Amigos, o ADA, que depois, fizeram uma união para combater o CV no Rio de Janeiro.

Sendo assim, o Dendê era TC e ADA, e na época, liderado pelo traficante Marcelo PQD, cria da comunidade. O Fernandinho Guarabu era um traficante de baixa hierarquia, apenas um soldado que atuava no Cocotá e na comunidade do Guarabu. Acima dele na hierarquia existiam o próprio PQD, Chorrão e Noquinha.

Desavença do Fernandinho com Marcelo PQD

Mas essa harmonia começaria a encerrar quando, numa desavença entre PQD e Fernandinho no Dendê.  O chefão PQD puniu o Fernandinho na comunidade, e obrigou á andar de cueca pelas ruas da comunidade, para todos ver que ele estava sendo punido, servindo como uma lição aos demais.

Mal o PQD imaginava que criaria um inimigo mortal anos depois. Com PQD preso em meados de 2000, e o Noquinha assumindo toda a comunidade, eles tiveram que administrar as desavenças que começaram a ter no TC e ADA, e após a morte do Uê na rebelião de Bangu 1 em 2002, a guerra pelo Dendê estourou.

Fim da Guerra e criação do TCP no Dendê

Com o fim da união e a formação do Terceiro Comando Puro sendo formada na cidade, o Fernandinho escolheu ficar com o TCP, seguindo os passos do seu superior na época, o Bizulai, e na companhia dos seus comparsas Gil e Piu.  A separação no Dendê causou uma disputa sangrenta em 2003, com dezenas de mortos, formando uma zona de conflitos entre Dendê, Cocotá, Guarabu, Parque Royal, Boogie Woogie.

Por fim, o bonde do Bizulai conseguiu vencer a guerra no Dendê, expulsando o bonde do Noquinha que tinha escolhido o ADA, fazendo os rivais fugir para Vila do Pinheiro na Maré. Quando venceram a guerra, o Bizulai ficou como superior no Dendê, e o Fernandinho Guarabu se tornou um dos seus gerentes de confiança.

Fernandinho alcançou a liderança após a morte do Bizulai em meados de 2004, após uma tróia bem feita da polícia nos acessos do Dendê. Quando Bizulai caiu, o Fernandinho assumiu o posto de número 1 do Dendê na parceria do seu amigo, o Gil, e ambos dividiram a liderança no Complexo do Dendê e começaram o reinado na Ilha do Governador.

Início do reinado do LG no Morro do Dendê

Como tomaram o Dendê e ajudaram a criar o TCP, o Fernandinho era considerado como um dos conselheiros da facção, e era muito amigo do Derico, que mandava no Acari e do Matemático, que mandava no Complexo da Coréia em Senador Camará. Na época, os redutos mais poderosos do novo TCP.

De patrão no Dendê, o Fernandinho passou de um usuário de drogas compulsivo, para um bandido extremamente religioso, inclusive, proibindo manifestações de religiões de matriz africana no Dendê. Se ele soubesse, pedia pra se retirar. Caso negassem, ele destruía o terreiro e tomava o imóvel, podendo levar o responsável para o tribunal do tráfico.

Ao contrário de muitos chefões que existiram no Rio de Janeiro, na gestão do Fernandinho e Gil, o Dendê não participava de guerras pela facção, e apenas se defendiam na Ilha do Governador. A sua defesa sempre foi contra o grupo do Noquinha, expulso, e o grupo do PQD, que quando houve toda a mudança no Dendê, estava preso e não decidiu em quem apoiar e ficou sem nada, tendo que fechar com o CV futuramente.

Mesmo não existindo registros de participações de guerras por territórios no Dendê, o Fernandinho tinha o costume de ajudar a sua facção com soldados, fuzis e dinheiro, e se acontecesse a invasão, ele recebia uma quantia como "preço" dos lucros.

Como era o Império do LG na Ilha

Apesar de ser um chefão que nunca aparecia na mídia, ele tinha um perfil violento com os desafetos, e costumava sumir com os corpos para não ter mídia par ao Dendê. No entanto, a mídia se voltou á ele quando houve uma tentativa de invasão no Dendê em 2007. 

Na época, o PQD organizou seu bonde de militares com treinamento avançado para invadir e expulsar o Fernandinho, mas os planos foram interceptados pela polícia e o PQD foi preso, e acreditem, foi encontrado apenas de cueca no seu esconderijo, sendo apresentado na mídia só de cueca.

Obviamente essa prisão virou chacota no Dendê, e o Fernandinho começou aparecer na mídia, cantando em bailes promovidos no Dendê, sempre fortemente armado, aplicando tiros para o alto e cantando letras de funk contra os traficantes Coroa, PQD, Noquinha e Chorrão, os seus desafetos pessoais.

A segurança pública e a imprensa sabia da existência do Fernandinho, que na ocasião, tinha forte influência na Ilha do Governador. Seu grupo costumava pagar altas propinas para policiais corruptos, e punia os assaltantes na Ilha, arrecadava dinheiro de comerciantes e transportes alternativos, ganhando a confiança de alguns corruptos que gostavam da sua ideologia, a de não ter violência e roubos na Ilha do Governador.

Sua fama trouxe até jornalistas europeus, que foram conhece-lo no Dendê, e ele concedeu entrevistas, pousou para fotos e contou sobre a sua vida. Na época, ele só tinha as fotos do Disque Denúncia e nada mais. Nos procurados, ainda tava com uma cara jovem e sem algumas tatuagens que eram reconhecíveis. 

Participação do Fernandinho na liderança do TCP

De 2004 a 2019, o Fernandinho presenciou muitos acontecimentos  na sua facção TCP, mesmo recolhido na Ilha, participou de algumas decisões que impactaram o seu grupo.  

Após a morte do Matemático em 2012, o Complexo da Coréia passou por uma crise e na época,  ele teve que administrar a crise que aconteceu entre os sucessores do Matemático contra o Astronauta, frente do Complexo da Maré para o Facão. 

Na época, pela irmandade entre Facão e Matemático, o Astronauta queria mandar na Coréia, alegando que existia uma cartão do matemático, dizendo que o sucessor seria o Facão caso ele caísse. 

Houve uma grande reunião no Morro do Dendê por causa dessa disputa, e por lá foram, os chefões de Camará e os chefões da Maré. Após uma discussão feia, chegaram o veredito que Senador Camará seria dos crias  e ninguém da Maré iria mandar por lá.

 No fim da reunião, os líderes de Camará foram presos pela policia em 2 carros.  Na época, acusaram o Astronauta e seus homens como informante, por não aceitarem a decisão conjunta de toda a facção.

Auxílio na invasão da Cidade Alta

Entre outras invasões promovidas pelo TCP no Rio de Janeiro, o Fernandinho ajudou na invasão da Cidade Alta em 2017, oferecendo homens e armamentos para o Peixão, sem querer nada em troca, apenas para fortalecer sua facção naquela região.

Mas em 27 de junho de 2019 foi o fim do Fernandinho Guarabu, e junto com ele, morreu toda a hierarquia do Morro do Dendê. Naquela época o Fernandinho costumava ir com frequência para Vila do João no Complexo da Maré, e estava sendo arduamente monitorado pela polícia. 

Fim do Fernandinho e liderança na Ilha do Governador

Pegar o chefão que comanda a Ilha do Governador por 15 anos seria um grande prêmio para o estado, e de fato aconteceu. Naquela noite, Fernandinho, Gil, Piu e Logan e seus seguranças, estava voltando para o morro do Dendê, foram interceptados pela polícia na entrada da comunidade com um intenso confronto. Todos faleceram na hora.

Houve uma comoção muito grande na Ilha do Governador, com dezenas de homenagens feitas pelos moradores do Complexo do Dendê. Esse foi o fim do traficante que permaneceu por 15 anos na liderança de uma das comunidades mais conhecidas no Brasil e Mundo, o famoso Morro do Dendê.