Quem foi o Toulon? Chefe que participou das 3 facções do Rio de Janeiro em pouco espaço de tempo

História do Toulon do Para-Pedro 

Josiel Gomes de Sousa, ou Tulon, Ziel ou Camaro, como era conhecido. Ele simplesmente foi o chefão mais 171 do Rio, xavequeiro, lábia e traíra que existiu na cidade maravilhosa. Atuou nas três facções que existem no Rio de Janeiro, mas terminou sua vida no Comando Vermelho. Nesta historiografia, você vai entender quem foi esse chefão do Para-Pedro e seus feitos no Rio.

Tulon ou Ziel, como chamaremos nessa história. Era nascido e criado na comunidade do Para-Pedro no bairro do Colégio, na zona norte do Rio de Janeiro. Ao contrário de muitos, era trabalhador e se envolveu no crime muito tarde.  Trabalhava num dos depósitos do CEASA, que fica na encosta do Para-Pedro, sua comunidade natal.

Início do Toulon no crime

Entretanto, seus primeiros crimes foi roubos na região e também no CEASA, desviando mercadorias para os chefões do Para-Pedro na época. Antes de aprofundarmos na história, você precisa entender um pouco da comunidade do Para-Pedro para ter contexto no restante da história.

Para-Pedro no Colégio, assim como a maioria das comunidades no inicio dos anos 90. Era uma favela dominada pelo Comando Vermelho, mas que acabou caindo nas mãos do Uê, chefão e fundador do ADA. Sob gerência do Uê, quem mandava era seus gerentes, conhecidos como DJ e Jacaré, oriundos do Morro do Adeus. Assim que ambos foram caindo, o Para-Pedro caiu nas mãos do Bamba ou 2B, como era conhecido, e daí q vamos começar a história do Tulon.

No Para-Pedro o Tulon desviava roubos do CEASA para as quadrilhas do Bamba, mas não tinha nenhuma participação na boca de fumo. Na época, o batalhão da área não gostava da quadrilha do Bamba, porque roubavam muito na região e trazia problemas para o batalhão, que tinha como sede na frente do Para-Pedro. 

Mesmo na frente, os subordinados do Bamba ignorava e roubavam tudo que dava pra roubar na região. Até que os moradores começaram a sofrer, porque chamava operações e sobrava tiroteio pra todo lado. E pior, por ordens do Bamba, moradores eram sumariamente queimados e torturados na torre da comunidade, se existisse apenas uma desconfiança contra ele.

Transição do ADA pro TCP no Para-Pedro

No Rio é assim, quando o bandido mexe com os moradores, ele tem vida curta na comunidade, e aconteceu isso com o Bamba. Uma parte do grupo era fiel á ele, outra parte não estava gostando do ritmo que a comunidade era levada. Na época, o Para-Pedro era dominado pela facção do Amigos dos Amigos (ADA), mas como vizinhos, eles tinham as comunidades do Amarelinho e Acari que eram do Terceiro Comando Puro.

Metade dos crias se revoltaram contra as leis do Bamba, e montaram um grupo, liderado pelo criminoso conhecido como "Japão", e foram pedir ajuda com os chefões do Amarelinho, na época, liderado pelo 3 Mil, como era conhecido o chefão da época.  

O 3 Mil entendeu que seria lucrativo tomar o Para-Pedro, e  concedeu dinheiro, armas e soldados para o Japão, e conseguiram expulsar o bonde do Bamba e colocaram a bandeira do TCP na comunidade, no meio disso tudo estava lá o Tulon.

Quem não queria o TCP e o Japão na comunidade, fugiu com o Bamba para o Complexo da Pedreira (ADA) em Costa Barros. Mas o Tulon ficou com o grupo do Japão, e foi galgando posições no novo grupo que estavas sendo formado no Para-Pedro, mas agora, sob patrocínio do TCP do Amarelinho. 

Toulon virou chefe no Para-Pedro

Mas o Japão não era diferente do Bamba, e fazia tudo igual á ele, desagradando os seus soldados.  Tulon fez a cabeça dos soldados e pediram pro 3 Mil retirar o Japão da liderança, e foi feito, e quem assumiu o cargo foi o Ziel, que agora era conhecido como o "Chefão Tulon".

Como frente do Para-Pedro agora, o Tulon com uma lábia boa, agradou todos os seus soldados e os moradores, deixando todos bem armados e liberando os roubos na região, mas de forma sorrateira para não chamar atenção.  Inclusive, conseguiu agradar os corruptos do batalhão da área, pagando um forte arrego para não ter problemas.  

Entretanto, ele tinha que sempre dividir os lucros do Para-Pedro com os chefes do Amarelinho, que abastecia as bocas com as próprias drogas e metade de tudo voltava para o Amarelinho. 

No começo não era problema arrendar 50% de todo lucro pro Amarelinho, porque sempre eram baqueados e invadidos pelo bonde do Bamba que estava no ADA. Pra não perder armas e soldados, o bonde do Tulon fugia pro Amarelinho, e rapidamente voltavam ilesos pra comunidade. Esse era o preço de ter contato com os corruptos. 

Desconfianças do chefe no Toulon

Até que, como um bom ambicioso, começou a entender que deveria ganhar muito mais como frente do Para-Pedro, e começou a desviar dinheiro do Amarelinho, forjando falsas apreensões de drogas, e pior, fingia que foi sequestrado e pedia dinheiro pro chefão do Amarelinho como resgate. 

As quantias variavam de R$ 100 mil até R$ 500 mil.  Até que as contas do Para-Pedro não estava batendo, e as desconfianças começaram a bater na cabeça dos chefões do Amarelinho.

Com uma desconfiança nas suas costas, o Tulon alegava que o Para-Pedro não dava lucro com as bocas, e eles se mantinham roubos na região, e pra isso, teria que arregar os corruptos pra não ter perda nas operações do Para-Pedro.

Como um bom xavequeiro, convenceu o dono do Amarelinho, o 3 Mil, que ajudou da melhor forma, deixando que ele comprasse a própria droga com o fornecedor, assim tendo 100% dos lucros com elas, não tendo mais que dividir o lucro de tudo com Amarelinho. 

Se essa decisão agradou o Tulon e seu grupo, por outro lado, desagradou os homens de confiança do 3 Mil, e um deles era conhecido como 600, e odiava o Tulon e entendia que ele roubava o chefão do Amarelinho.

Mesmo com essa falsa sensação de prosperidade no Para-Pedro, nesse meio tempo bandidos eram presos, e alguns fugiam da comunidade e iriam fechar com ADA na Quitanda. E todos diziam que, o Tulon roubava o dono do Amarelinho, e não pagava bem os soldados, alegando que tinha que dividir com Amarelinho e os corruptos. Simplesmente metade dos soldados perderam a sua confiança.

Até que um dia aconteceu um novo "falso sequestro", e o Tulon recorreu uma ajuda com o Amarelinho, que se recusou em pagar o valor, e o Tulon foi solto.  Pra piorar, alegou que usou todo seu dinheiro guardado para pagar o sequestro, e piorou mais ainda, avisando pros seus soldados que não teria pagamento para arcar com esse prejuízo. E pra piorar mais ainda, apareceram boatos que ele foi conversava com Milicianos do Quitungo e os crias do Para-Pedro que estavam na Quitanda pelo ADA.

Obviamente esses boatos caíram no conhecimento dos chefões do Acari e Amarelinho, e o Tulon foi levado para uma reunião da facção.  mas ele foi esperto, e antes que chamassem, ele convocou a cúpula do Complexo da Maré por meio do Astronauta, que era frente na época. 

Na reunião, estavam os líderes do Acari, amarelinho e maré. Essa tática foi inteligente, que assim, não seria julgado apenas por quem acusou ele de roubo.  

Toulon fugiu do Para-Pedro após reunião

Na reunião com os chefões, o Tulon colocou tudo na mesa, mas não afirmou que montava os falsos sequestros, apenas que desvia os lucros errados para manter os pagamentos dos soldados, arregos e eventos na comunidade. 

Sua simpatia poupou sua vida, e foi julgado apenas em entregar todos os fuzis que ele tinha comprado para o paiol do chefão do Amarelinho, entregar todo seu abastecimento próprio e sair da comunidade no mínimo 1 semana, e nunca mais aparecer no Para-Pedro.

Saindo com vida da reunião no Amarelinho, rapidamente arquitetou um golpe, e convenceu seus homens de confiança em ficar na comunidade para passar tudo pra ele, mas ele, fugiu com a roupa do corpo e o dinheiro inteiro dos cofres do Para-Pedro, além de levar 10 fuzis e esconder mais de 10 dentro do Para-Pedro,

Sabendo que o Tulon fugiu do Para-Pedro, os chefes do Amarelinho deram o controle do Para-Pedro para os gerentes do Amarelinho, e por alguns meses o Tulon não foi visto, e o pior estava por vir. Na gestão direta do Amarelinho no Para-Pedro, os problemas financeiros eram os mesmos da época do Tulon, e só dava prejuízo.

Toulon como gerente no ADA

Ele apareceu como gerente na Favela da Quitanda em Costa Barros. Um lugar que estavam os crias que foram expulsos por ele do Para-Pedro e muitos homens de confiança do Bamba.  Mas como ele foi parar lá?  

Simplesmente, ele entrou em contato com o Playboy, chefão do Complexo da Pedreira, e convenceu ele a investir no seu grupo pra retomar o Para-Pedro para o ADA. 

O Playboy, que tinha um perfil expansionista no Rio de Janeiro, entrou em contato com os chefões do ADA, que autorizaram, mas o Toulon ficaria sob a sua responsabilidade. Entretanto, pro ADA entrar no Para-Pedro novamente, os chefões acordaram que o bonde do Bamba teria que ir junto e teria que trabalhar ao lado do grupo do Toulon, e assim foi feito.

Primeira tentativa de retomada do Para-Pedro

Na primeira grande invasão liderada pelo Tulon e Bamba, negociaram com os corruptos, que iriam limpar o caminho para o  ADA, mas tinha apenas uma condição, que era, o Bamba não poderia aparecer no Para-Pedro, porque o batalhão local odiava ele e não queria. 

Mas ele ignorou essas ordens, e no meio da invasão, tirou a touca ninja e foi visto por todos os moradores. Na hora, uma operação ferrenha aconteceu e todos do ADA foram expulsos. 

O bonde do Tulon perdeu soldados e armas, e voltaram pra Quitanda colocando a culpa no Bamba.  Na época, o Bamba tinha assumido a gerência do Morro do Urubu em pilares, e antes, tinha sido retirado da gerência do Complexo do Caju, porque a comunidade não gostava da sua administração.

A retomada do Para-Pedro foi pro ralo e no quitanda, o bonde do Tulon não era bem visto, porque ninguém confiava nele, mas respeitavam por ordens apenas do Playboy.  

Mas o Tulon agiu primeiro. Sabendo que o ADA não iria investir nele pra retomar o Para-Pedro, e provavelmente na Quitanda, uma hora ele iria se morto pelos próprios traficantes, acabou fugindo da comunidade com seus fuzis e os fuzis da Quitanda, colocando mais uma mira na sua cabeça. Odiado no TCP, agora era odiado no ADA.

Pulou do ADA pro CV

Como forma de respeito, ligou para o Playboy e avisou que iria sair da comunidade, mas devolveria apena os fuzis dele em dinheiro, mas que não confiava nos chefes do Quitanda e muito menos no Bamba.

Ficou por algumas semanas sumido, e derrepente, apareceu no Morro do Juramento em Vicente de Carvaho. Lugar que tinha familiares, mas era dominado pelo Comando Vermelho. 

Um amigo apresentou ele pro Marreta, criminoso que na época era considerado como "Homem de guerra" no CV, e dominava o Jorge turco, Lins e Praça Seca.  No Juramento, o Tulon mudou seu nome para "Camaro", e foi por algumas semanas para as comunidades do Antares e Rodo em Santa Cruz na zona oeste, porque os donos do Juramento, também eram donos na zona oeste.

Sua fama no crime de enganar os chefões e dar golpes, era conhecida na cidade, e os chefes do CV estavam receosos em aceitar ele na facção. Mas ele tinha fugido com dinheiro e fuzis, e essa era sua carta na manga para mostrar a sua confiança pra nova facção.  

Como primeiro teste, ele foi recebido no Morro do Jorge Turco em Coelho Neto, território do Marreta, e por lá, organizou mais uma invasão para voltar pro Para-Pedro no Colégio. Apesar de serem bairros diferentes, as comunidades eram bem próximas.

Toulon retomou o Para-Pedro

Toulon e seu bonde entrou fortemente armado no Para-Pedro, e conseguiram expulsar o bonde do 3000, fazendo todos recuar para comunidade do Amarelinho. Com seu grupo fortemente armado e apoiado pelo bonde do Marreta. Ficou por 1 semana no Para-Pedro como CV, conseguindo combater todas as tentativas de retomada do TCP. 

Mas quem engana sempre é enganado, e dentro do seu bonde tinha um informante do TCP e era seu segurança. Numa incursão, o segurança do Camaro tentou tirar a vida dele pelas costas, mas acertou de raspão apenas seu pescoço. 

Esse segurança fugiu com a sua arma para o Amarelinho, e de lá, entregou todas as informações do Toulon para cúpula do Acari e Amarelinho, e era questão de tempo uma debandada acontecer no seu grupo.

Como foi o Fim do Toulon 

Nos últimos dias de vida do Tulon, a comunidade ficava com medo de apoiar, porque sabiam que o TCP iria voltar. Os soldados que ele tinha convencido em ficar no CV, começaram a fugir, entendendo que estavam sendo usado, e uma hora ou outra, a cúpula do CV iria passar todo mundo e eles iriam mandar no Para-Pedro.

Até que o fim do Tulon chegou.  Ele estava saindo do Para-Pedro com 2 seguranças transitando pela estrada do Quitungo. Provavelmente, estaria indo para a Penha. Mas foi interceptado pela polícia, que deu voz de prisão. 

Ele não aceitou e abriu fuga. Uma perseguição e tiroteio aconteceu, e o Toulon bateu o carro e capotou, acabou falecendo na hora com uma fratura no pescoço e os 2 seguranças também estavam sem vida. Os policiais reconheceram que era o Toulon pelas suas tatuagens.

Quando foi anunciada a morte do Toulon no Para-Pedro, seus soldados abandonaram a comunidade e fugiram para a comunidade do Rodo (CV) em Santa Cruz, e por lá ficaram e nunca mais tentaram voltar para o Para-Pedro, deixando a comunidade novamente para o TCP do Amarelinho.